domingo, 31 de agosto de 2014

A MENINA QUEBRADA

"O que eu poderia dizer a você, Catarina? A verdade? A verdade você já sabia, você tinha acabado de descobrir. As pessoas quebram. Até as meninas quebram. E, se as meninas quebram, você também pode quebrar. E vai, Catarina. Vai quebrar. Talvez não a perna, mas outras partes de você. Membros invisíveis podem fraturar em tantos pedaços quanto uma perna ou um braço. E doer muito mais. E doem mais quando são outros que quebram você, às vezes pelas suas costas, em outras fazendo um afago, em geral contando mentiras ou inventando verdades. Gente cheia de medo, Catarina, que tem tanto pavor de quebrar, que quebram outros para manter a ilusão de que são indestrutíveis e podem controlar o curso da vida. E dão nomes mais palatáveis para a inveja e para o ódio que os queima. Mas à noite, Catarina, à noite, eles sabem. E, Catarina, você tem toda a razão de duvidar. Depois de quebrar, nunca mais voltamos a ser como antes. Haverá sempre uma marca que será tão você quanto o tanto de você que ainda não quebrou. Viver, Catarina, é rearranjar nossos cacos e dar sentido aos nossos pedaços, os novos e os velhos, já que não existe a possibilidade de colar o que foi quebrado e continuar como era antes. E isso é mais difícil do que aprender a andar e a falar. Isso é mais difícil do que qualquer uma das grandes aventuras contadas em livros e filmes. Isso é mais difícil do que qualquer outra coisa que você fará. Existe gente, Catarina, que não consegue dar sentido, ou acha que os farelos de sentido que consegue escavar das pedras são insuficientes para justificar uma vida humana, e quebra. Quebra por inteiro. Estes você precisa respeitar, porque sofrem de delicadeza. E existe gente, Catarina, que só é capaz de dar um sentido bem pequenino, um sentido de papel, que pode ser derrubado mesmo com uma brisa. E essa brisa, Catarina, não pode ser soprada pela sua boca. Ser forte, Catarina, não é quebrar os outros, mas saber-se quebrado. É ser capaz de cuidar de seus barcos de papel – e também dos barcos dos outros – não como uma criança que os imagina poderosos, de aço. Mas sabendo que são de papel e que podem afundar de repente". Eliane Brum

O PODER DOS AVOS:

A vó mistura o desespero e a dor desse momento com palavras de: " Vamos ter força! Temos fé" Ela oscila entre o desespero e a crença! Ainda vivendo um turbilhão de emoções contraditórias nos perguntamos o por que e vem uma vontade desenfreada de arrancar a dor dela. Ela que nos fazia dormir, nos tirava as dores de barrigada, os esfolados das artes, que nos curava com um beijo e prometia que quando cassássemos passava. Então estamos todos juntos casados adultos, em volta dela impotentes diante da vida tentando de todas as formas consolá-la em vão...Dos 8 filhos dois deixaram a vida terrena esse ano...ela repete entre um soluço e outro que lembra do dia em que eles nasceram! Ela chora um choro que vai nos rasgando a alma. Agora são todos os netos em volta...cada um de seu jeito tenta reajustar a vida! Um abraça, outro diz que a ama de um cantinho somente com o olhar, outro massageai seus pés, tem a que verifica sua pressão, tem quem massageie seu peito com óleos das divindades, tem que traz o copo com água... tem todos que descendem dela! Ela pede um abraço. Os filhos nossos pais e tios se recolhem a suas dores...nos entregam esse momento não interferem como se soubessem que era nossa vez. Perdemos para morte e para dor! O lugar onde me sinto mais segura: Na casa dela! Os momentos de nossa família tem uma beleza a união que ela ensinou...Estamos todos unidos agora na dor assim como é nas gargalhadas de nossos almoços de domingo juntos com ela, com a família toda! Eles irão conseguir: Evaldo Leite e Daniel Leite , Felipe Leite e Cláudia Leite Todos nós temos que conseguir e aprender um pouquinho sobre o poder dos avos!