sexta-feira, 30 de abril de 2010

O OUTRO LADO, UM NOVO OLHAR


" Adoção não é um ato de caridade. Com ela não se pagam promessas, nem se conserta casamento falido. Adoção não é apólice de seguro-felicidade. Luto, infertilidade, carência afetiva"

Fermino Magnani Filho

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A VIDA ASSIM... ASSIM...;


Pasmem, esta semana tive de usar o banheiro da rodoviária aqui, se alguém ainda não usou posso contar para você: É limpíssimo! V.
paga R$ 1,50 e tem direito a usa-lo.

Ops> O "Pasmem" é pela higiene do local.

Mas o que mais me impressionou foi a sra. que cobrava. Ela não ergueu a cabeça em nem um momento sequer, falou estupidamente o valor e mandou que eu passasse a roleta. (Sim tem roleta) deve ser para o controle do patrão para terem certeza que não estão sendo roubados. Mas voltamos a "sra. da recepção do banheiro da rodoviária"...cara fechada, triste. Não sei se da para fazer deste local um ambiente agradável e feliz, não estou na pele dela. Mas eu estava ali por motivo de doença eu tinha um prazo para enviar por ônibus alguns laudos para um amigo no interior. O pai dele estava na UTI e estes laudos ajudariam. Pensei: Será que ela tem alguém doente na família nesta hora? Ou deixou os filhos sozinhos em casa? Ou simplesmente decidiu ser infeliz? Ou gostaria de fazer uma viagem longa dessas de 3 dias em um daqueles ônibus grandes de dois andares, e por este motivo detestava as pessoas que estavam ali cruzando "sua roleta" e lhe "roubando" o seu sonho de fazer sua viagem. Saí de lá sem respostas, foram devaneios...

terça-feira, 27 de abril de 2010

ASSIM...


..." Suavizei meu soco, amoleci minha marcha, embora minha dança continue sendo queda equilibrada. Sou minha família, meu amor, meus amigos, meu conhecimento, minha casa, meu corpo, meus pensamentos bagunçados e até meus desejos bobos."

segunda-feira, 26 de abril de 2010

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS (Clarice Lispector)



"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. E havia a grande poeira das ruas. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Bem Clarice...(obs: Contribuição da BETA aquela que sabe ler nas entrelinhas...)

domingo, 25 de abril de 2010

LUCCA


Ontem ganhamos um novo presente, uma nova bençao...estas coisas divinas de que falo de que a vida nos reserva. A Hellen e André nos convidaram para padrinhos do Lucca. O Lucca é nosso 3º afilhado menino e entre todos nosso número 7. Ops. Do ladinho o Lo sempre lindo demais.

Com amor da dinda

sexta-feira, 23 de abril de 2010

ISABEL


Qual o significado do nome Isabel: "QUE SE DEDICA A DEUS". CONFORME O ANTIGO TESTAMENTO, CASADA COM ABRAÃO, CONFORME O NOVO TESTAMENTO, PROGENITORA DE JOÃO BATISTA.

Sua generosidade já é percebida na infância, desde muito cedo já sabe dividir, entende a necessidade dos outros e sente-se bem ajudando como pode. Liga-se a profissões onde possa exercer este seu lado. Sempre pensando num mundo melhor, não poupa energia ao participar de atividades de cunho social. Não carrega em si preconceito de qualquer origem.

Ela se apoia na prudência, que o acompanha em sua busca. Fala da luz da inteligência e da sabedoria, que ilumina o olhar orientando no caminho e na vida.É o espírito de sacrifício, prudência, discrição, recuo, vigilância.

A Isabel é a menor de nós 4. Eu tenho absoluta certeza que Deus a enviou e disse: "Vai lá e cuida daqueles 3"...Na Isa esta cravado a coragem a serenidade a honestidade, a transparência o amor incondicional por cada um de nós...A Isa me enche de orgulho de saudade e de amor. Nossa menina cresceu!Ela diz que adora anjos e eu digo que os anjos adoram ela. Ela tem um lado mistico, suas palavras tem poder de cura, me acalmam, me mostram novos caminhos. Nos da grande exemplo como esposa do Luciano. Soube incorporar seu papel e assumiu a familia dele como sendo sua e lhes dedica amor, fidelidade, amizade, trabalho diário e Deus a recompensa com saúde e o amor do meu cunhado. T amo maninha não seriamos uma familia completa sem v.

“A adoção não ficou mais fácil no Brasil”, defende Juiz


As mudanças na Lei Nacional de Adoção (lei nº 12.010/09) combinadas com as adequações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que deveriam agilizar a adoção de crianças no Brasil, estão tornando mais difícil o processo. A afirmação é do Juiz da Vara da Infância e Juventude de Santo Ângelo, João Batista Costa Saraiva. Para ele, quando essa lei foi aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, formou-se uma certa repercussão na mídia nacional onde o processo de adoção tinha sido facilitado, porém, dentro daqueles rituais envolvendo a adoção, o processo não foi abreviado. “Lamento em informar que se vendeu gato por lebre. O noticiário governamental, inclusive, a respeito desta reforma, divulgou o que não corresponde com a realidade. O que a lei fez e nesse particular foi um grande e significativo avanço, foi uma grande reforma do sistema de abrigamento de crianças e adolescentes abandonados”, ratifica. CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO Saraiva explica que houve uma tentativa de diminuir a porta de entrada de crianças nesses abrigamentos e aumentar a porta de saída, ou seja, facilitar o retorno de crianças para os seus familiares, à família biológica ou parentes próximos, mas não para a adoção. “Quanto a esse processo nada mudou. A adoção não ficou mais fácil no Brasil. Eu até diria que se tornou mais complexo porque a lei estabeleceu definitivamente, um cadastro único de adotantes, um único cadastro que é nacional. Hoje esse cadastro é local. Cada comarca tem o seu cadastro. Depois ele é regional, estadual e nacional”, observa. RESISTÊNCIA AO CADASTRO NACIONAL Saraiva confidencia que o Poder Judiciário do Rio Grande do Sul resistiu à criação do cadastro nacional de adoção porque sempre entendeu que o modelo que existia aqui, era razoável diante da realidade do Brasil no sentido de dar às pessoas um filho adotivo com a rapidez possível, embora houvessem lugares em que a demora era bem maior. “Teve casais aqui em Santo Ângelo que entraram na fila, esperaram três anos, adotaram e entraram na fila novamente, conseguindo adotar mais uma vez”, relembra. Atualmente, com a evolução da criação do cadastro nacional, corre-se o risco de ficar mais demorada a adoção. “Porque pessoas de São Paulo, por exemplo, virão a concorrer com pessoas habilitadas em Santo Ângelo e isso fará com que a ordem de preferência seja o tempo de espera e eventualmente poderá causar um embaraço maior, dificultando tudo”, frisa. O magistrado falou que hoje a adoção não se limita apenas a pessoas casadas e heterossexuais mas também abrange pessoas solteiras e até mesmo homossexuais. Ao todo são 23 casais habilitados para realizar a adoção. Neste momento não há crianças para serem adotadas, em Santo Ângelo. ADOÇÃO DE CRIANÇAS MAIORES João Batista Costa Saraiva salienta que quanto à adoção de crianças recém-nascidas existe um mito na cabeça das pessoas e que pretende mudar esta realidade. “Eu pessoalmente não vejo isso como uma coisa ideal. Eu até acho e sustento a ideia de que os casais deveriam buscar adotar crianças um pouco maiores. Essas crianças poderiam participar do processo de adoção se tornando protagonistas da acolhida e facilitaria uma série de tarefas como por exemplo: a revelação de que o filho é adotado, coisa que não é muito simples de fazer”, acentua. Por conta disso, Saraiva adverte que adotar crianças maiores é bem mais fácil do que bebês. “Em virtude dessa necessidade que o Juizado tem de esgotar todas as alternativas no âmbito da família biológica, o que causa uma série de dificuldades ao fazer a gente cumprir a exigência legal. E adotar uma criança de dois anos ou mais abre a oportunidade dela desejar ser o seu filho”, enfatiza. O Cartório da Vara da Infância e Juventude está a disposição junto ao prédio do Fórum para qualquer esclarecimento ou pelo telefone (55) 3313-1950. No site do Tribunal de Justiça (www.tj.rs.gov.br) também podem ser encontradas informações.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Perdas


Esta semana perdemos o Jonas, nosso primo. Para algumas pessoas primos são pessoas distantes (talvez nem parentes) na nossa família(ALMEIDA LEITE) Avós,tios, primos, padrinhos... A família é a base de tdo e esta acima de qualquer outra coisa. A dor foi imensa, doi a perda do Jonas, doi a dor do padrinho Jandir(irmão da mãe) da tia, dos tios, da vó, dos demais primos...É como se tivessem mexido em algo imaculado. Nossos domingos são recarregadores de energia nos almoços da casa da vó...é ritual o almoço de domingo lá. Não, ela não tem uma coberta de mesa completa, nem uma mesa estilo Luiz VX, tem sim uns pratos que não combinam uns com outros,tem nas conversas dos tios lembranças engraçadas de nossa infância, muitas vezes é preciso duas toalhas para cobrir a mesa toda ( e estas tolhas não são do linho mais puro). A mesa tem mais de 50 anos (já foi feita assim para ser aberta na medida que fosse chegando mais gente então sempre vai ter lugar para mais um).Mas lá tem fartura de amor, de risadas, piadas, abraços da mais pura sinceridade, lá nos sentimos amados de verdade.
Agora sem o Jonas..fica o medo e o vazio...Um dos lugares da mesa de domingo esta vazio...O medo de continuarmos perdendo de que seja mexido de novo e de novo nisso TUDO só nosso é muito grande.Vai se perdendo assim a ilusão.

O JONAS...

O Jonas voltou para Luz eterna...Foi muito triste e é para nossa família toda. Que dor sem fim! Que Deus cuide MUITO do padrinho e da tia como tem feito até aqui.

domingo, 18 de abril de 2010

TIAGO FERRAZ


Eu que conheci o Tiago no Dupa Face, em Giruá exatamente em 1986...estou MUITO feliz pelo concretização do DVD ROCK de GALPãO. Sei do tamanho que foi a Peleia dele (Hoje Estado das Coisas). Ontem fomos presenteados com o DVD, que esta bom de mais! E pasmem temos agora também o Tiago Felipe (filho) fazendo show junto como pai.Pode ter orgulho maior para família Ferraz? Sucesso! Com carinho


Kátia Emmel

ENTREVISTA (Revista Época)


"Acho que a gente não entra na vida dos outros impunemente, somos transformados pelo contato com o outro, pelo o que vemos, pelo que ouvimos. Quando termino a apuração, me sinto extremamente responsável. Tantas coisas neste processo exigem tanta responsabilidade, contar a história de alguém é muito importante. É, ao mesmo tempo, o que me move e me faz sofrer. No processo entre a apuração e a escrita do texto, perco o sono, tenho insônia, fico pensando se eu vou conseguir e, depois do texto pronto, fico com medo de não ter conseguido. Fico acordando no meio da madrugada, pensando se poderia ter contado determinada coisa de um outro jeito. Isso até a pessoa me falar que leu, que se enxergou, que gostou da matéria..."

Eliane Brum

sexta-feira, 16 de abril de 2010

ELIANE BRUM: "O FILHO POSSÍVEL"

Nesta semana, publiquei uma reportagem na revista impressa chamada “O filho possível”. Eu e o fotógrafo Marcelo Min contamos a história – e as histórias – de uma UTI neonatal que também cuida dos pais. A Divisão de Neonatologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), da Universidade de Campinas (Unicamp), é talvez o único berçário do Brasil que pratica os cuidados paliativos. Como toda unidade neonatal, trabalha com algo ao mesmo tempo terrível e delicado: a morte de quem acabou de nascer. O fim abrupto de uma vida que existia no imenso desejo dos pais – e que não teve tempo de se realizar.

Na maioria das unidades neonatais do país, como na maioria dos hospitais gerais, os profissionais acreditam que seu trabalho termina quando não há como curar um paciente. Na neonatologia do Caism, a equipe de saúde acredita que cuidar da saúde é bem mais do que curar. Muitas vezes não dá para curar. Mas sempre dá para cuidar. E cuidar também salva.

Salva a vida breve do bebê que se vai, ao empreender todos os esforços para que não sinta dor, ao suspender qualquer tratamento invasivo e desnecessário, ao permitir que fique no colo da mãe, do pai, da avó. E salva a vida dos que ficam, ao compreender a dimensão dessa perda para cada família. Ao cuidar com delicadeza dessa morte – e do luto.

Essa prática de saúde entra oficialmente na agenda da medicina brasileira nesta semana. O novo Código de Ética Médica inclui os cuidados paliativos entre as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão. É o início de um caminho de retorno a uma medicina que enxerga uma pessoa – e não uma doença. Capaz de reconhecer limites e suspender procedimentos invasivos quando eles só servem para causar dor aos pacientes ou lhes roubar a consciência. Os profissionais perdem onipotência – e ganham humanidade.

Os cuidados paliativos surgiram na Inglaterra nos anos 60. No Brasil, é um movimento cada vez mais forte, levado adiante por um punhado de médicos, psicólogos e enfermeiros idealistas, mas ainda distante do cotidiano da maioria dos hospitais. As equipes que trabalham nessa perspectiva cuidam, em geral, de pacientes adultos com câncer e outras doenças com escassas chances de cura.

Em unidades neonatais, é uma raridade. Se é difícil enfrentar a morte no fim da vida, o fim da vida logo no início é dor condenada ao silêncio. A forma que a sociedade encontra para mascarar seu horror é minimizar a importância dessa perda, dizendo às mães variações de frases como estas: “Não se preocupe, logo você vai ter outro filho” ou “Ainda bem que não deu tempo de se apegar, assim você supera rápido”.

Saiba mais
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O que pouca gente parece compreender é que a vida do bebê, para os pais, não começou no seu nascimento. Iniciou muito antes, quando aquele casal sonhou com um filho, concebeu sua existência. E nele depositou suas melhores esperanças e desejos de continuidade. É uma vida muito mais longa do que horas, dias, semanas, meses. Antes de um bebê existir como indivíduo, para os pais ele já é. E é da forma mais cara para os humanos – como desejo. Quando tudo isso é arrebentado por uma morte precoce, se a família não é bem cuidada, ela se arrebenta inteira.

Para fazer a reportagem, acompanhei famílias nesse processo da doença e da perda. Escutei também mães e pais depois de alguns anos dessa tragédia pessoal. Queria compreender esse momento para poder dar aos leitores a dimensão da importância de cuidar bem do luto. E entender a diferença que a prática dos cuidados paliativos pode fazer nesse fim precoce da vida. O que significa para uma família sepultar um bebê e como uma equipe de saúde pode ajudá-la a seguir adiante.

Na reportagem, contei a história de outros. Aqui, conto a minha. Acredito que nós, repórteres, que pedimos aos outros a generosidade de compartilhar suas histórias mais íntimas e dolorosas com o mundo, temos de ter a grandeza de nos expor em nossa própria humanidade doída. É o exercício que faço algumas vezes nesta coluna.

Algumas pessoas acham que me exponho demais. Eu sempre pedi aos outros que se expusessem demais. Não saberia como continuar fazendo este pedido se não fosse capaz de retribuir a generosidade. Não faço pedidos que não possa fazer a mim mesma. Não peço a ninguém algo que eu mesma não possa dar. É como estabeleci meus limites na profissão.

Sou filha de uma família profundamente marcada pelo luto de uma morte precoce. Minha irmã, a terceira filha dos meus pais, depois de dois meninos, morreu aos cinco meses. Sobre esse momento, minha mãe sempre diz. “Eu chamei o pai para vê-la brincando no banho à tarde. À noite ela estava com febre e com manchas pelo corpo. No outro dia, estava morta”.

Acho que hoje, prestes a completar 75 anos, minha mãe ainda não compreende como é possível perder uma filha assim. Ainda mantém no rosto aquela expressão confusa, de alguém que, de repente, teve uma parte de si mesma roubada com uma violência desproporcional. No velório, ela surpreendia a si mesma olhando no relógio para ver se não estava na hora da mamadeira. Só então se dava conta de que era seu bebê que estava no caixão.

Minha irmã esteve neste mundo, de fato, por cinco meses – mas sua morte vive com minha mãe e com todos nós há quase cinco décadas. Eu fui a quarta e última filha. Não conheci minha irmã. Para mim, ela sempre pareceu mais viva do qualquer outra pessoa. Penso, com tudo o que sei hoje, que esta presença tão forte foi causada por um luto insepulto. Minha irmã morreu de meningite meningocócica. Mas o diagnóstico só chegou dez anos depois de sua morte. Até então, os médicos não entendiam o que a havia matado. De repente, tão rápido.

Minha mãe passou anos se perguntando o que havia feito de errado. Hoje, ao conversar com mães que perderam seus bebês, percebo que elas também se perguntaram. E se culparam. Só superaram porque tiveram a sorte de encontrar profissionais conscientes de seu lugar nesse luto. Uma das missões mais importantes de uma boa equipe de saúde é exatamente dar acesso a todos os exames e a toda possibilidade de investigação, para que não paire nenhuma dúvida sobre o diagnóstico. Esclarecer a causa da morte com o maior número de informações qualificadas é fundamental para que a perda possa ser superada. E que culpas infundadas não se instalem como pedras pelo resto da vida.

Em Ijuí, no início dos anos 60, os médicos não tinham nenhuma ideia do que havia acontecido com minha irmã. E a cidade pequena, como a literatura conta tão bem, pode ser o mais cruel dos mundos diante da fragilidade do outro. Logo circularam pela cidade as mais variadas versões sobre o que tinha matado minha irmã. Em uma delas, minha mãe havia deixado leite estragado na mamadeira. Como se não bastasse toda a dor e as perguntas sem respostas, minha mãe era apontada como culpada por alguns. Permaneceu mais de um ano em depressão profunda.

Quando o diagnóstico finalmente chegou, já era tarde para preencher o buraco que se abriu dentro dela. E nós, que sobrevivemos, estávamos acostumados demais a conviver com uma filha para sempre perfeita que, infelizmente, nunca teve a chance de errar. A dor dos irmãos daquele que morre ainda é um capítulo nebuloso na história do luto. Ainda hoje, eles são esquecidos na hora de cuidar da família. Nasci com a missão impossível de apagar a dor da minha mãe, de todos. Logo eu, tão imperfeita. Passei boa parte da vida culpada por fracassar e sobreviver.

Acho que só agora, depois desta reportagem, compreendo minha mãe por inteiro. Ela foi massacrada demais para ter a chance de sepultar minha irmã. Da forma que lhe foi possível, empreendeu seus melhores esforços para mantê-la viva. O que aconteceu com nossa família ainda acontece muito nos dias de hoje, nas pequenas e nas grandes cidades. Acontece sempre que a dimensão dessa perda não é compreendida ou tratada. Sempre que uma equipe de saúde se equivoca – e pensa que seu trabalho acaba quando o bebê morre, apesar de todos os esforços de cura.

Numa visão mais larga da saúde, a função de uma equipe é ajudar essa família a sepultar – também simbolicamente – esse bebê. É importante que essa vida seja não esquecida – mas lembrada como uma história que, apesar de curta, teve bons e maus momentos, como todas as vidas. Lembrada em fotos e recordações como parte da trajetória daquela família. Uma trajetória que segue.

Para isso, é necessário abarcar a dimensão dessa perda. Passei parte da minha vida sem entender como alguém que só tinha vivido cinco meses, que morreu antes de falar uma única palavra, pudesse ser tão importante. Quando, depois de adulta, testemunhei amigas que perderam seus bebês, ainda na gravidez, também não entendia por que sofriam tanto. Afinal, aquela criança nem tinha existido.

Só agora alcanço o tamanho da minha ignorância. A vida de um bebê começa sempre muito antes, na cabeça de cada pai, de cada mãe. E inicia por suas mais caras esperanças. Quando termina, é óbvio que só pode ser avassalador. Se esses pais, essa família, não forem cuidados, perdem partes essenciais de si mesmos – partes sem as quais não conseguem viver por inteiro.

Sempre acreditei que meu pai havia sofrido menos que minha mãe por essa morte. Ele raramente falava no assunto. Minha irmã não parecia tão presente em sua vida, o que me dava enorme alívio. Há dois anos, resolvi registrar a história dos meus pais. Eles me contam a vida, eu gravo. Tenho feito descobertas extraordinárias nesse processo. Uma delas foi a dor do meu pai.

Ele me contou, rosto contraído e voz embargada, que o maior sofrimento de sua vida foi a morte da minha irmã. Fiquei paralisada. Aquele homem, que ficara órfão de pai e mãe antes dos 15 anos, que havia perdido quatro irmãos ainda na infância, me dizia que a maior dor de sua vida foi perder seu bebê.

Só então comecei a compreender. Ao fazer esta reportagem, testemunhei o lugar ambíguo dos homens na morte de um bebê. Há um reconhecimento social de que, por ter gerado, a mulher é, se não a única, a maior sofredora. Muitas vezes seu sofrimento é tão aniquilador que não deixa espaço para a dor do homem, do pai daquele bebê.

O homem, que foi educado para suportar a dor em silêncio, para proteger a mulher, para ser o provedor e o esteio – e ainda hoje estes papéis são mais cimentados do que parece – aceita esse lugar menor no luto. Como dor não se joga para debaixo do tapete impunemente, essa incompreensão mútua costuma gerar muita confusão e conflitos. E às vezes até o fim do casamento.

Acho que meu pai, à sua maneira, deu um lugar para essa morte, para o seu luto. Ele tem uma caixinha de madeira, com chave, bem antiga, onde mantém a salvo pequenas preciosidades de uma vida inteira. Dia desses descobri que lá dentro, junto com as medalhas do colégio, ele guarda a participação de falecimento da minha irmã. Impecavelmente recortada e até hoje em perfeito estado, como tudo que é dele. Minha irmã é lembrança, parte de sua travessia.

Ao terminar esse texto, enviei aos meus pais para que eles me autorizassem a contar uma história que também é minha – mas é deles. Algumas horas depois meu pai me ligou. Profundamente comovido, ele queria me contar um pouco mais. Para que eu pudesse alcançar. “Na noite após o enterro houve um temporal terrível em Ijuí, com raios e trovões”, disse. “Nós queríamos protegê-la e não podíamos. Ela estava lá, sozinha, e não podíamos cuidar dela”. Prestes a completar 80 anos, meu pai ainda sofre com sua impotência diante da morte da filha. Seu bebê enterrado, debaixo da tempestade.


Conto tudo isso aqui porque acredito que, se minha família tivesse tido a chance de ser bem cuidada na sua perda e no seu luto, teríamos sido poupados de muita dor e desencontros. Ao fazer a reportagem, não pude deixar de pensar como nossa vida teria sido diferente se, num rasgo do tempo e do espaço, tivéssemos encontrado a pediatra Jussara Lima e Souza, da neonatologia do Caism, e a equipe dos cuidados paliativos.

Destinos são alterados para melhor quando uma equipe de hospital compreende que saúde é algo bem mais amplo do que tentar curar alguém de vírus, bactérias, tumores e doenças variadas. Infelizmente, a medicina nunca vai conseguir curar tudo. Médicos honestos sabem que se cura muito pouco ainda. Infelizmente, homens e mulheres, a cada ano, vão continuar perdendo bebês. Se, depois de todas as tentativas, não houver como salvá-los, é preciso compreender que, pelo menos, é possível salvar aquela família. Cuidando dela.

Conto esta história na esperança que, agora e no futuro, homens e mulheres possam ter a chance de ser compreendidos na enormidade da sua perda e fazer um luto que torne possível seguir a vida. Transformar a dor em algo ativo é parte da superação da perda. De certo modo, é o que tento fazer aqui. Escrevo para transformar. E sou transformada pelo que escrevo. Pego meu luto por tantos desencontros e o transformo em história contada, na esperança de dar a contribuição que me é possível para o início de uma mudança mais profunda do nosso olhar sobre a morte. E sobre a vida.

P.S. – Quem quiser saber mais sobre os cuidados paliativos, finalmente contemplados no Novo Código de Ética Médica, pode ler e assistir às seguintes reportagens:

- A enfermaria entre a vida e a morte

- A mulher que alimentava

- Minha vida com Alice

- Conheça a rotina de uma enfermaria que cuida de pessoas no fim da vida em São Paulo


(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

CLARICE LISPECTOR

"Já que se há de escrever, que, pelo menos, não se esmaguem -com palavras- as entrelinhas".

RECADOS:


Meu Deus...não consegui não me emocionar....que história linda...que pessoa maravilhosa que tu és...com certeza tu recebe a cada dia em dobro tudo de bom que você faz para os outros.
Ontem...na madrugada tu foi meu exemplo enquanto esperávamos a Milena....

bjs.

DAIANE CAETANO LEITE
Qualidade

Tu quer matar a gente do coração...
Lindo tudo o que escreveu e que viveu.
Tu tem que escrever um livro, Deus te deu o dom da palavra e da escrita.

Beijão

VERGINIA DONADEL FORGIARINI
Gestão de Pessoas

Olá, Kátia!

Só pessoas especiais como você, recebem pessoas especiais para ajudar, dar carinho, afeto,....

Você foi, e é muito importante no ciclo da vida!


beijos.
CARLENE L. BRUM
Financeiro

Li teu texto. Eu amei e me comoveu!!
Tu é demais...

Bj ♥

Renata Sarmento

ESTA É A MINHA FILHA. Q CADA DIA ME SURPREENDE...ME FAZ RIR...CHORAR. DA EXEMPLOS
MUITO LINDO E VERDADEIRO O Q VOCÊ ESCREVEU....TE AMO....


lindooooo..e emocionei muito..
manda a historia dela para a novela VIVER A VIDA... para a Martinha contar como ela venceu tudo isso...


beijinhos te amooo muito... Isa

não tem como não se emocionar lendo teu blog....
acredito sinceramente, que nada é por acaso!!! Infelizmente nem tudo que faz a gente crescer e tornar-se pessoas melhores... são fáceis. Muitas vezes pode ser cruel... mas tenho certeza que depois de tudo que vcs passaram... vc é uma pessoa diferente e cada um a sua maneira contribui para que uma missão fosse cumprida ( uii to toda arrepiada!!!)
Bjos
e eu tenho uma vontade enorme de realizar um projeto como farmacêutica e lendo o texto da Eliane ( eu acho) percebo que pode sim dar certo e valer a pena!!!


Alci

Kátia,

Deus escolheu você para esta missão, tenho certeza disso. E acredito que não foi por acaso. Sinto que está aflorando para algo chamado maternidade, posso estar enganada....mas meu coração está em festa por sua felicidade e saudade, tudo junto.....Você mais uma vez foi maravilhosa!!!!
Tenho orgulho de poder compartilhar com você estas emoções!!!!!
TE AMO!!!

Janine Geesdorf

katia querida já te falei uma vez mas vou falar de novo voçeé iluminda por fazer tudo isto e mais fazer a gente chorar lendo uma historia destas de passagem pela tua vida meus deussssssssss‏
De: Lourdes Geesdorf

Que lindo miga!

Sem palavras...

Só sei que acabei de acordar, com aquele mul humor matinal que já é presença constante, e em segundos, com o texto e a experiência tão rica pela qual passaste, tu me fez repensar as coisas e ver o que de fato é um problema e que eu não tenho motivos pra ficar de mal humor. Tudo corre sempre "tão certinho", Graças a Deus.

Que Deus abençoe e proteja a Milena e faça-a crescer linda e forte.

Que Deus abençoe você por ser essa pessoa maravilhosa e tão surpreendente (a sua força é inspiradora).

Missão cumprida miga, e a vitória é sua, da Milena e de todos que a amam.

Você é uma mulher incrível!

Beijão



Thais S. Santos

Kátia
Que coisa mais linda o quê vocês fizeram!
Se precisarem de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo... é só chamar, interfonar, ligar, fazer um sinal de fumaça,... que estaremos sempre prontos para ajudá-los.

Sabe, existem aquelas pessoas que conhecemos, que depois fica somente um oi, bom dia, boa noite. Existem àquelas, que o “oi” se torna sempre uma festa, um “te desejo tudo de bom!”. Vocês foram assim, na hora deu para ver o quanto são especiais.

Um grande abraço!


Márcia Pires

Olá Kátia tudo bem

Quero parabenizar pelo que você escreveu me emocionei senti que o que você estava sendo muito verdadeira neste teu depoimento. O carinho e sentimento que você demonstrou com a Milena que tinha acabado de vir ao mundo e sem falar das demais crianças e mães que lá estavam pedindo a Mãe do céu que olhasse pelos seus filhos.
Por isso Kátia tomo a liberdade de falar de AMOR de mãe, quero dizer pensa em tudo o que aconteceu neste mês que passou será que Deus não estava querendo te diz algo que fez você viver está historia. O amor é incondicional o amor de mãe não está na gestação de um bebê, mas sim no amor que conquistamos todos dos dias dos filhos. Pensa em adoção é um gesto tão maior que a gestação ouvir uma criança pronunciar a palavra mãe é divino. Há anos atrás conversei com uma mulher conhecida minha tinha lá seus 60 anos, não teve filho, e falou assim me arrependo amargamente de não ter adotado um filho.

Pensa nisso .....

Um forte abraço

MARIA ROSELENE DEWES DALLA COSTA
Contabilidade

CICLOS, CÍRCULOS A VIDA!




Qto tempo longe do blog. Mas acreditem a vida me reservou algo precioso e eu fui lá viver este pedaço divino. Passei exatamente 25 dias na sala de espera da UTI neo natal da Instituto de cardiologia. Aí vocês devem com todo direito do mundo, se perguntar o que há de divino nisso? Pois é fui escolhida para esta missão e a encarei como uma lição de vida. No dia 10 de março as 6horas da manhã chegou aqui em Porto Alegre a Milena ( Filha da minha amiga Martinha de Santo Ângelo)com 2 dias de vida... a Martinha viria a seguir tinha ainda pela frente a alta hospitalar, pontos, recuperação de uma cesária, colocar o pé na rua e não levar com ela seu bebe nos braços. O bebe que ela planejou e esperou 9 meses...estava agora a 600 km dela.
Eu, pisei na calçada no instituto de cardiologia sem saber o que iria enfrentar, sabia só que a Milena tinha vindo de urgência e alguém tinha que estar lá para esperá-la junto com o pai Marcelo.
Encontrei um pai forte, cansado, desnorteado, seguro, apavorado e um bebe com 4 kg, pele rosada so de fraldas e muitos eletrodos, fios e monitores. O técnico de enfermagem vendo meu pavor (que eu nem imaginei que transparecia) solicitou que eu a tocasse e desse carinho. Que dia infinito...a cada toque um pulo da Milena eu não sabia que frases pronunciar (sem falar que a cada palavra ela dava outro pulo)...No segundo dia acordei com saudades já, pois no final daquela tarde já nos comunicávamos como conhecidas, minha voz foi ficando conhecida para ela descobri que ela gostava de carinho nas costas e cabelos...Eu não ousava olhar para os lados eu tinha absoluta certeza que TODAS as outras mães ali dentro me observavam e pensava: “Pobre criança”, eu não sabia uma canção de ninar e esqueci a história dos 3 porquinhos assim de repente, num estalo de dedos.

Sabiam que a UTI tem 14 leitos para os bebezinhos? Eles chegam e saem. Tem de todos os tamanhos e vão para luz...ou do sol ou a eterna..São os Ciclos!

Os dias foram passando eu conhecendo um outro mundo além deste aqui meu e do Márcio de saúde, afeto, churrasco aos domingos, sábados e sextas, muitos amigos, viagens, família reunida nas datas especiais, tudo dando certinho.
Tudo pode dar errado também.
Lá o valor de um abraço tem um significado especial demais...sempre apertado, cúmplice e ele é de conforto ou de comemoração.
Conheci tantas mãezinhas...
A mãe Jurema, espetacular 8 filhos e uma excelente administradora ( a revista exame, época e a Você SA deveriam fazer uma matéria sobre ela) do lar, do coração, dos filhos, da vida! Gente, quem não conheceu a Jurema saiu perdendo. Ela faz camas gigantes em casa qdo não pousa no hospital com sua pequena e lá na sua casa reúne todos os filhos para assistirem filme até tarde da noite e cada um desde a menininha de 5 anos tem suas atribuições (juntar os brinquedos heeh). Ela me fez chorar e rir muito esta é a Jurema.
Um dia surgiu a Fernanda, forte, realista e muito solidária...a cada mãe nova que entrava para nossa “família sala de espera da vida” ela já ia investigando e vendo do que precisavam e providenciava. Seu abraço era verdadeiro, forte e cheio de certeza de que Deus age sim pelo melhor. Sinto por ela um laço mais que um abraço como algo que une.
A Fran, era quieta, olhos azuis brilhantes que lacrimejavam vez que outra, nós nos responsabilizamos em puxar assunto e sugerir que ela substituísse as roupas pretas por roupas mais coloridas (as quais por sinal as deixavam muito bonita) Ela que bordou o palhacinho que esta no meu blog todo colorido.. num momento de esperança. Entre estas outras tantas que não me sinto no direito de citar aqui pela falta de intimidade que são exemplo de Guerreiras com seus “Joãos” lá a 4,6, 7 meses a espera de uma melhora, de uma alta, da luz!

Agora já se passaram 37 dias. A Milena fez um mês aqui em casa entre,muita saúde (sim como diz seu pediatra nota 1000) afagos, leite, fraldas (muitas fraldas) banho de chuveiro (ela adora acreditem) adotou um canto de nosso sofá como seu lugar preferido, aprendi massagens para cólica, acordava 3 vezes na madrugada se necessário eu ouvia o resmungo dela e corria lá...(eram os “espinhos” da cama heheh) só dar um colinho, mama
e trocar a fralda. A Martinha faria tudo sozinha mas era meu jeito de antecipar a saudade que viria depois e ela chegou! Ontem a Milena foi para casa. E nós temos uma música só nossa:

...”Mas não vou chorar
Se você quiser partir
Às vezes a distância ajuda
E essa tempestade
Um dia vai acabar…
Só quero te lembrar
De quando a gente
Andava nas estrelas
Nas horas lindas
Que passamos juntos…
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não
Termina agora...”

Kátia Emmel