sexta-feira, 23 de abril de 2010
“A adoção não ficou mais fácil no Brasil”, defende Juiz
As mudanças na Lei Nacional de Adoção (lei nº 12.010/09) combinadas com as adequações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que deveriam agilizar a adoção de crianças no Brasil, estão tornando mais difícil o processo. A afirmação é do Juiz da Vara da Infância e Juventude de Santo Ângelo, João Batista Costa Saraiva. Para ele, quando essa lei foi aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, formou-se uma certa repercussão na mídia nacional onde o processo de adoção tinha sido facilitado, porém, dentro daqueles rituais envolvendo a adoção, o processo não foi abreviado. “Lamento em informar que se vendeu gato por lebre. O noticiário governamental, inclusive, a respeito desta reforma, divulgou o que não corresponde com a realidade. O que a lei fez e nesse particular foi um grande e significativo avanço, foi uma grande reforma do sistema de abrigamento de crianças e adolescentes abandonados”, ratifica. CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO Saraiva explica que houve uma tentativa de diminuir a porta de entrada de crianças nesses abrigamentos e aumentar a porta de saída, ou seja, facilitar o retorno de crianças para os seus familiares, à família biológica ou parentes próximos, mas não para a adoção. “Quanto a esse processo nada mudou. A adoção não ficou mais fácil no Brasil. Eu até diria que se tornou mais complexo porque a lei estabeleceu definitivamente, um cadastro único de adotantes, um único cadastro que é nacional. Hoje esse cadastro é local. Cada comarca tem o seu cadastro. Depois ele é regional, estadual e nacional”, observa. RESISTÊNCIA AO CADASTRO NACIONAL Saraiva confidencia que o Poder Judiciário do Rio Grande do Sul resistiu à criação do cadastro nacional de adoção porque sempre entendeu que o modelo que existia aqui, era razoável diante da realidade do Brasil no sentido de dar às pessoas um filho adotivo com a rapidez possível, embora houvessem lugares em que a demora era bem maior. “Teve casais aqui em Santo Ângelo que entraram na fila, esperaram três anos, adotaram e entraram na fila novamente, conseguindo adotar mais uma vez”, relembra. Atualmente, com a evolução da criação do cadastro nacional, corre-se o risco de ficar mais demorada a adoção. “Porque pessoas de São Paulo, por exemplo, virão a concorrer com pessoas habilitadas em Santo Ângelo e isso fará com que a ordem de preferência seja o tempo de espera e eventualmente poderá causar um embaraço maior, dificultando tudo”, frisa. O magistrado falou que hoje a adoção não se limita apenas a pessoas casadas e heterossexuais mas também abrange pessoas solteiras e até mesmo homossexuais. Ao todo são 23 casais habilitados para realizar a adoção. Neste momento não há crianças para serem adotadas, em Santo Ângelo. ADOÇÃO DE CRIANÇAS MAIORES João Batista Costa Saraiva salienta que quanto à adoção de crianças recém-nascidas existe um mito na cabeça das pessoas e que pretende mudar esta realidade. “Eu pessoalmente não vejo isso como uma coisa ideal. Eu até acho e sustento a ideia de que os casais deveriam buscar adotar crianças um pouco maiores. Essas crianças poderiam participar do processo de adoção se tornando protagonistas da acolhida e facilitaria uma série de tarefas como por exemplo: a revelação de que o filho é adotado, coisa que não é muito simples de fazer”, acentua. Por conta disso, Saraiva adverte que adotar crianças maiores é bem mais fácil do que bebês. “Em virtude dessa necessidade que o Juizado tem de esgotar todas as alternativas no âmbito da família biológica, o que causa uma série de dificuldades ao fazer a gente cumprir a exigência legal. E adotar uma criança de dois anos ou mais abre a oportunidade dela desejar ser o seu filho”, enfatiza. O Cartório da Vara da Infância e Juventude está a disposição junto ao prédio do Fórum para qualquer esclarecimento ou pelo telefone (55) 3313-1950. No site do Tribunal de Justiça (www.tj.rs.gov.br) também podem ser encontradas informações.
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Exatamente há 10 anos eu apresentava meu trabalho de conclusão de graduação sobre o tema adoção. E mais ainda o meu orientador e mestre no assunto só podia ser o Saraiva, apresentado na matéria acima.
ResponderExcluirMuito bom ler essa reportagem, voltei no tempo agora...
para minha monografia foram dois anos de leitura, entrevistas e na época havia muito pouco material para pesquisar, pois o meu objetivo não era falar da adoção em si, mas dos principais motivos que levavam as pessoas a se negarem o optar pela adoção de uma determinada criança. O título do meu trabalho foi " As crianças que ninguém quer". Forte não?
Bom, crianças acima de 3 anos,com cor de pele diferente dos pais adotivos, com problemas de saúde e com mais irmãos para serem adotados, faziam parte (até o ano 2000) das crianças digamos rejeitadas pelos casais para serem seus filhos adotivos. Hoje (tento acreditar) que esse quadro de escolhas possa ter mudado, mas algo me diz q ainda é assim.....
Posso dizer que foram 2 anos de minha vida dedicados ao assunto, o trabalho rendeu bons frutos, fui chamada para abordar o tema em outras instituições, fui alvo de pesquisa e entrevista por algum tempo, meu trabalho encontra-se em outras bibliotecas e claro a nota, sim tive a melhor nota. Mas, não é isso que qro deixar exposto aqui, mas sim da riqueza que tirei dessa experiência.
Era difícil entrar naqueles abrigos que estavam cheia de crianças no aguardo de um pai e de uma mãe, percebiamos no rosto deles a ansiedade de q podia ser qq um q entrasse ali e tirasse eles daquela situação, muitas vezes eu sentia aquele lugar como uma virtrine humana, já não pensou por esse lado??
Mas, ali eles recebiam a atenção, carinho dos que trabalhavam e cuidavam deles,era o melhor lugar para ficarem, pois obviamente por um motivo grande não estavam com seus pais biologicos, e eu como mulher, senti varias vezes meu instinto de mae aflorar e querer leva-los todos para minha casa.
Foi uma experiência única, bem guardada pra mim e para aqueles que gostam do tema.
Levantar a questão do pq não se quer uma determinada criança para adoção, além de polêmica foi gratificante o resultado, pois não devemos ser cegos, há essas crianças (maiores de 3 anos, negras, com alguma deficiência...) esperando também por um pai e mãe.
Para mim a grande questão é bem subjetiva, são as escolhas que fizemos, a origem dessas escolhas, o pq do diferente não ser aceito nem por nós mesmos que dizemos de boca cheia que não temos "pré-conceitos" e assim por diante....
É um assunto maravilhoso que me intinga, e dp de anos percebo que ainda amo o assunto....
Valeu Kátia por me fazer voltar ao tempo e ver q essa "bandeira" continua acesa... bj